quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Modernidade na Música Com o Uso de Artefatos Nostálgicos - O Caso do Disco de Vinil


A indústria fonográfica está com drásticas perdas de consumo desde, pelo menos, meados da década de 1990, e com o passar dos anos isso só vai se intensificando, tendo como resultados factíveis o fechamento de gravadoras, empresas e até mesmo históricas, e imensas, lojas de discos, como foi o caso de diversas das principais lojas da rede Virgin nos Estados Unidos e Europa em 2008. O que fazer com esse crescente número de pessoas mais interessadas no conteúdo do que no produto físico e que conseguem, cada vez com mais facilidades, adquirirem as suas faixas preferidas de graça pelas ferramentas da internet? São diversas pesquisas nesse ramo, empresários correndo atrás de novas idéias, etc. Mas, pode-se dizer que nenhum resultado totalmente satisfatório foi atingido. Mas que tal, então, para melhoria desse mercado, voltar a vender os clássicos discos de vinil? Como assim? Em pleno SéculoXXI, com a internet, e com as diversas facilidades de distribuição e de trocas de arquivos, além das claras notícias sobre problemas de vendas de CDs, como é que a idéia de voltar a vender discos de vinil – produto físico anterior ao CD- pode ser minimamente aceitável pelas empresas num momento em que a venda de música está sendo considerada, cada vez mais, a venda de uma experiência do que do seu suporte físico? Isso chega a ser até paradoxal para muitos. Porém, o que acontece é que ao mesmo tempo em que tudo isso ocorre, está também ocorrendo – nas suas devidas proporções- um crescimento no consumo de discos de vinil e os aparelhos de reprodutibilidade desse suporte musical.

Para se ter uma idéia de que existe um crescimento considerável no consumo de discos de vinil, podemos pegar os Estados Unidos como exemplo, que, pelo menos, em 2007 já tinha quase todos os lançamentos também nesse formato, vendendo, naquele mesmo ano, 1 milhão de unidades. No Brasil isso também não foi muito diferente, tendo muitos grupos novos, e também antigos, fazendo seus lançamentos também em vinil – alguns dando até maior prioridade a essa forma- o que resultou na abertura, no ano de 2009, da única fábrica de discos do país, a Polysom, que devido ao sucesso, fez com que o dono, João Augusto, fizesse uma otimista previsão de produção de 40 mil discos mensais. Outro importante fato que demonstra esse interesse dos brasileiros, é que, também em 2009, a grande gravadora SONY, resolveu investir nos vinis, fazendo até uma série chamada “Meu Primeiro Disco” onde trariam às lojas antigos álbuns em versão de luxo vinil.

Essa volta ao formato disco de vinil pode se ter como base a cultura da música eletrônica em que os Djs usam os discos e toca discos como instrumento, outro fato importante é do disco ter se tornado objeto de desejo, revitalizando assim esse mercado. Hoje já existem até picapes (tocadores de disco) com saída USB e até limpadores de discos High-Tech. Outra explicação para isso está na cultura de que tudo isso é cool ou hype, deixando ser característica de pessoas consideradas ‘Modernas’ (Mesmo esse termo parecendo ser o máximo da contradição). A revalorização da cultura do vinil também pode encontrar algumas explicações na “nostalgia regressiva” em associação ao pós-modernismo defendida por Fredric Jameson, nesse caso até pode existir pessoas que concordem no termo ‘pastiche’ também usado por Jameson, que faz parte da dificuldade de se criar algo totalmente novo e com isso mistura com coisas do passado, que teria força na moda retrô – onde os vinis estariam inseridos.

Fazendo parte ou não do que Jameson diz, muitos consumidores desse produto deixam bem claro que o prazer de ouvi-los vem também do formato e o local onde eles podem se reproduzir, além de nos remeter práticas culturais diversas, muitos dirão que os meios de reprodução não são totalmente neutros na ação, que na verdade esses também participam da modelagem cultural. Um dos argumentos centrais está ligado à produção externa de cada disco, que seria uma obra artística e que muitas vezes é o que mais chama a atenção. Voltando aos Djs, esses dizem que a qualidade de som dos discos de vinil são superiores a de outras mídias, consideram mais naturais pois emitem todos os espectros de possíveis freqüências para que eles possam interferir no momento em que estão em ação, também permitem a eles um maior manuseio e experimentos – algo essencial para um Dj.

Sendo ou não um som mais natural ou de maior qualidade, ou se seu consumo está mais ligado ao seu design, ao hype, ao passado que remete, a coleções... O que importa é que está existindo uma crescente procura por eles. É claro que não vai ser a venda de discos de vinil que vai salvar o mercado fonográfico, mas existir um aumento de vendas deles num momento crítico da indústria da música é no mínimo curioso, e pode fazer parte daquelas originalidades que se tornam cada vez mais necessárias aos futuros dependentes da música, pois o que mais chama a atenção para se ‘comprar’ música atualmente é a vivencia ou originalidade delas e não somente a vontade de ouvir quando bem entender.

Referências:

SÁ, S. P. “O Cd Morreu? Viva o Vinil!”. In: Silveira, S. A. e Perpetuo, I.F . O Futuro da Música, São Paulo, 2009

‘Única fábrica de discos de vinil brasileira voltará a funcionar este ano’ no site do G1, 2009: http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1234147-7085,00-UNICA+FABRICA+DE+DISCOS+DE+VINIL+BRASILEIRA+VOLTARA+A+FUNCIONAR+ESTE+ANO..html

Na era do MP3, disco de vinil recupera espaço entre os fãs de música’ no site do G1, 2008: http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL717249-7085,00-NA+ERA+DO+MP+DISCO+DE+VINIL+RECUPERA+ESPACO+ENTRE+OS+FAS+DE+MUSICA.html

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